Editorial

“E dias melhores virão”

 

Dia 1° de maio, pra mim, sempre foi um dia de descanso. Ocorre que, infelizmente, nesse 1° de maio o que prevalece é a inquietude, a reflexão. Afinal, a pandemia que abate o mundo é também uma crise no trabalho. Diferente de outros momentos, nesse ano a maioria gostaria de estar trabalhando e se dedicando ao seu ofício, mas isso não é possível para uma boa parcela da sociedade. Aos 12 milhões de desempregados se somaram milhões de pessoas sem renda e com destino incerto.  

Em outras guerras, não a do vírus Covid-19, mas entre as nações, o trabalho também era a preocupação central. Os conflitos bélicos exigiam uma mobilização completa da sociedade.  De traumas e conflitos na História, restaram suas marcas nas gerações dos nossos antepassados. 

Porém era difícil pensar que em momento de paz entre os povos iríamos enfrentar um inimigo oculto, perigoso e letal: o coronavírus. Por certo será o trauma da nossa geração. Não será fácil, os desafios serão gigantescos, mas a história – além do trauma – nos trás muitos exemplos de nações que foram arrasadas na guerra e, com um esforço conjunto, conseguiram se reinventar e evoluir.

Nosso inimigo agora é um vírus. Combatido conjuntamente, num esforço coletivo de cada profissional, de cada trabalhador. Com o devido respeito ao isolamento social, o principal antítodo para combater a proliferação do vírus. Assim, nesse 1o de Maio temos que saudar o exército de médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, sem os quais o número de baixas seria muito além dos números de vítimas já contabilizados. Além destes guardiões da saúde pública, importante destacar o papel das pessoas que estão no campo para produzir nossos alimentos e de todas as pessoas que integram a cadeia produtiva até chegar ao consumidor. 

E nessa guerra contra o vírus, qual o papel dos contadores e empresários da contabilidade? Qual o papel dos contadores para ajudar a sociedade a se reerguer? Temos lembrado que – principalmente na crise – nós, os contadores, somos os médicos para o seu negócio. O trabalho dos contadores é o remédio em meio à recessão. Diante desta crise mundial, nada será como antes, e vai ser preciso que cada ator – incluindo nós contadores – exerça um novo papel, se reinvente, visando o crescimento do todo.

Devemos refletir, dessa forma, sobre como agir para manter ativas as pequenas e médias empresas, responsáveis pela maior fatia de  geração de empregos e renda no país. De modo que, em meio a recessão, é fundamental movimentar a economia local, que irá movimentar a roda de todo o país. Nesse 1o de Maio,  nossa angústia e reflexão se direciona a reconhecer que a saúde dessas empresas influencia, em última instância, a saúde dos trabalhadores. Assim, quando se fala em crise e recessão, quando se fala em demissões e empresas indo à falência, cabe a nós contadores vestir o avental de médico dos negócios e ajudar a montar as receitas que ajudarão o bolo da economia voltar a crescer. 

Já passamos por momentos piores, porém – ainda que existam exemplos – não existe receita pronta para a superação. Reconhecemos que esse 1o de Maio é de inquietude e insegurança, mas não deixaremos de transformá-lo em esperança e de um futuro melhor para todos nós. Agora, não há espaço para gula. E como já ensinava a minha mãe, a dona Maria Hélia, não adianta se apressar, pois abrir o forno, antes da hora, pode estragar toda a receita. Consulte o médico do seu negócio, pois com calma e serenidade encontraremos soluções. Aponto dois ingredientes que podem ser necessários: em primeiro lugar, a solidariedade, mais necessária do que nunca para seguirmos em frente. Logo, a união, que se materializa nas ações conjuntas de empresários, governos, trabalhadores e da sociedade em geral com vistas a superar mais essa barreira que se apresente.  

Assim, o que desejamos nesse 1o de Maio é confiança e perseverança. Confiança, em todos os trabalhadores que mantém o forno aquecido e fazem o bolo crescer. Confiança nos contadores e empresários, geradores de receitas, que com muito esforço farão nossas empresas saírem dessa crise fortalecidas. Perseverança, porque assim como em outros momentos de dificuldade, nosso esforço conjunto trará resultados positivos. E dias melhores virão, disso tenho toda a certeza. 

Célio Levandovski, presidente do SESCON-RS